Conflito Israel-Palestina

Ministros israelenses enfrentam isolamento internacional

Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Noruega anunciam sanções inéditas

 

Em uma iniciativa diplomática inédita, cinco países ocidentais — Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Noruega — anunciaram nesta segunda-feira (10) sanções diretas contra dois dos ministros mais controversos do governo israelense: Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, e Bezalel Smotrich, ministro das Finanças. A decisão representa uma ruptura significativa no relacionamento tradicionalmente sólido entre o Ocidente e o governo de Israel, refletindo o crescente desconforto internacional diante das políticas ultranacionalistas adotadas por Tel Aviv desde o início da guerra em Gaza.

Segundo o comunicado conjunto, ambos os ministros são responsabilizados por “ações que incitam à violência, ameaçam a estabilidade regional e violam direitos humanos fundamentais dos palestinos”. As sanções incluem o congelamento de bens em território desses cinco países, proibição de entrada e de qualquer envolvimento econômico ou institucional com entidades registradas nessas nações. As justificativas citam diretamente os constantes discursos de ambos em favor da expansão de assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada, além de manifestações públicas que apoiam a remoção forçada de populações palestinas.

A decisão surge em um contexto de escalada da crise humanitária em Gaza, onde mais de 54 mil palestinos já morreram, segundo dados do Ministério da Saúde local. Paralelamente, o colapso do sistema de distribuição de ajuda humanitária, agravado por bloqueios e ataques, tem gerado comoção global. Os cinco países signatários da medida afirmaram que a iniciativa visa pressionar Israel a cessar imediatamente as ações militares em Gaza, garantir a entrada irrestrita de ajuda humanitária e retomar um caminho diplomático que leve à solução de dois Estados, há décadas respaldada pela ONU.

Em resposta, o governo israelense reagiu com dureza. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, retaliou no mesmo dia, revogando uma licença especial que permitia transações entre bancos israelenses e palestinos — um gesto que pode paralisar pagamentos de salários e fornecimento de produtos básicos em Gaza e na Cisjordânia. Smotrich ainda acusou os países sancionadores de se curvarem à “pressão de ONGs radicais e à ideologia progressista ocidental”, afirmando que Israel “não será intimidado por decisões hipócritas”. Já Itamar Ben-Gvir, conhecido por sua base entre colonos e discursos incendiários, declarou que continuará “avançando com força total” na política de assentamentos e sugeriu que a pressão internacional “dará em nada diante da soberania israelense sobre sua terra”.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ainda não se pronunciou formalmente, mas o chanceler israelense, Gideon Saar, classificou as sanções como “inaceitáveis” e convocou uma reunião de emergência do gabinete de segurança para discutir possíveis contra-medidas diplomáticas e comerciais. Internamente, aliados do governo temem que esta ação marque o início de um isolamento progressivo de Israel por parte de seus parceiros históricos no Ocidente.

Enquanto isso, a decisão parece ecoar nas capitais europeias. Fontes em Bruxelas sugerem que países da União Europeia estudam medidas similares, pelo menos contra líderes de assentamentos ilegais envolvidos em episódios de violência documentada contra civis palestinos. Caso isso ocorra, poderá representar um duro revés para a imagem de Israel no cenário internacional, além de dificultar investimentos e acordos comerciais.

Apesar do gesto ousado, os países sancionadores destacaram que suas ações não são contra o Estado de Israel ou seu direito à segurança, mas sim contra membros do governo que, segundo eles, extrapolaram os limites do aceitável em um Estado democrático. “É possível apoiar o direito de Israel à autodefesa sem fechar os olhos para abusos sistemáticos cometidos por aqueles que deveriam representar a lei e a ordem”, afirmou o chanceler britânico James Cleverly.

Especialistas em direito internacional avaliam que o movimento pode abrir precedente para que lideranças de outros países sejam responsabilizadas não apenas por crimes em tribunais internacionais, mas também por sanções políticas diretas por Estados aliados. Ainda é incerto o quanto essas medidas afetarão o curso do conflito atual, mas diplomatas veem nelas um recado claro: a comunidade internacional começa a desenhar um limite para a impunidade de extremistas em altos cargos, mesmo em países tradicionalmente aliados.

O gesto pode marcar uma inflexão histórica. Se antes sanções desse tipo eram restritas a países considerados inimigos do Ocidente, agora se estendem a aliados que ultrapassam as fronteiras éticas e legais estabelecidas pela comunidade internacional. Resta saber como Tel Aviv responderá, e se a pressão internacional será suficiente para forçar uma mudança de rota na política israelense.

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