Em 2016, uma tempestade varreu Melbourne, na Austrália, levando milhares de pessoas ao hospital com graves sintomas respiratórios. O fenômeno, que ficou conhecido como “asma de tempestade”, deixou uma dezena de mortos e revelou uma nova e silenciosa ameaça climática que vem ganhando força em várias partes do mundo: o impacto crescente das mudanças climáticas na saúde respiratória da população.
Cientistas alertam que os casos de asma de tempestade devem se tornar mais comuns com o avanço das mudanças climáticas. Essas ocorrências acontecem quando ventos fortes fragmentam grãos de pólen em partículas minúsculas, capazes de penetrar profundamente nos pulmões. Para pessoas sensibilizadas a esses alérgenos, o resultado pode ser fatal.
Mas não é apenas o tempo de exposição das pessoas aos alérgenos que está aumentando. A quantidade de alérgenos no ar também está crescendo em muitas partes do planeta. Nos anos 2000, a temporada do pólen na área continental dos Estados Unidos começou três dias antes do que na década de 1990. E a quantidade de pólen no ar foi 46% maior.
Causas
Esse aumento é impulsionado, na maioria, pelos níveis elevados de dióxido de carbono (COâ‚‚) na atmosfera — um subproduto direto das atividades humanas. Muitas das plantas que mais afetam quem sofre de febre do feno se beneficiam do excesso de COâ‚‚, crescendo mais e produzindo mais pólen.
Em um estudo, pesquisadores cultivaram um tipo de grama sob diferentes concentrações de COâ‚‚ e observaram que plantas expostas a 800 partes por milhão (ppm) de COâ‚‚ produziram cerca de 50% mais pólen do que aquelas cultivadas sob 400 ppm — o nível atual da atmosfera. Estudos similares com carvalhos revelaram um aumento ainda mais expressivo: em concentrações de 720 ppm, a produção de pólen foi 13 vezes maior que em 400 ppm.
Donald Ziska, autor do livro Greenhouse Planet (2022), obteve resultados semelhantes ao estudar a ambrósia, uma planta altamente alergênica. Segundo ele, além de crescer mais e produzir mais pólen sob níveis elevados de COâ‚‚, a planta parece liberar uma forma mais potente do alérgeno.
A difusão de espécies invasoras como a ambrósia para outras regiões do mundo intensifica ainda mais o problema. Nativa da América do Norte, ela já está disseminada por Europa, Ásia, Austrália e América do Sul. Hoje, cerca de 60% dos húngaros, 20% dos dinamarqueses e 15% dos holandeses apresentam sensibilidade ao pólen da planta.
Estudos indicam que, até 2050, a concentração de pólen de ambrósia no ar poderá quadruplicar, inclusive em regiões onde atualmente sua presença é mínima, como o sul do Reino Unido e a Alemanha. Desse aumento, cerca de um terço será causado pela expansão da planta e dois terços diretamente pelas mudanças climáticas, como o prolongamento das estações de crescimento e o aumento das temperaturas.
“Será, portanto, uma temporada mais longa, que começa mais cedo e mais intensa para quem sofre de sintomas alérgicos”, explica a pesquisadora Elena Fuertes. “E, com isso, aumenta o risco de nova sensibilização para populações anteriormente não expostas.”
Nem todas as regiões do planeta verão esse aumento de pólen, o sul da Califórnia, por exemplo, pode enfrentar temporadas menos intensas devido à seca. No entanto, outros fatores associados às mudanças climáticas, como o aumento dos incêndios florestais, também agravam os sintomas de asma e alergias.
Com informações de BBC Inovation e BBC News Brasil