A Polícia Federal (PF) concluiu, na última sexta-feira, 1º, o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, após quase dois anos e meio de investigações. "A investigação confirmou que os assassinatos foram em decorrência das atividades fiscalizatórias promovidas por Bruno Pereira na região. A vítima atuava em defesa da preservação ambiental e na garantia dos direitos indígenas", afirmou a PF em nota.
No dia 5 de junho de 2022, Pereira e Phillips foram mortos a tiros em Atalaia do Norte, no Amazonas. O crime ocorreu enquanto ambos visitavam comunidades próximas à Terra Indígena Vale do Javari. Além de ser a segunda maior área do país destinada ao uso exclusivo indígena, a região também abriga a maior concentração de povos isolados do mundo.
No relatório final, a PF manteve o indiciamento de nove investigados, apontando que há provas suficientes para acusá-los de participação no duplo homicídio. O Ministério Público Federal (MPF) poderá pedir o arquivamento caso entenda que não há elementos probatórios contra os indiciados.
Entre os nove indiciados, Ruben Dario da Silva Villar é apontado como mandante do crime. Sem citar nomes, a PF informou que os outros oito indiciados desempenharam papéis na execução dos homicídios e na ocultação dos corpos das vítimas.
“Temos provas de que ele [Colômbia] fornecia munições para Jefferson e Amarildo, as mesmas encontradas no caso”, afirmou Alexandre Fontes, então superintendente regional da PF no Amazonas, na época. Fontes declarou ainda que Villar arcou com os custos iniciais da defesa de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, primeiro suspeito preso em 7 de junho de 2022.
Dom Phillips, de 57 anos, colaborador de jornais de prestígio, como os britânicos The Guardian e os norte-americanos The New York Times e Washington Post, viajou à região com o objetivo de entrevistar lideranças indígenas e ribeirinhos para um livro-reportagem sobre a Amazônia que planejava escrever.
A PF concluiu que Pereira e Phillips foram mortos em razão das atividades de Pereira na defesa dos territórios indígenas e da preservação ambiental. Mesmo licenciado da Funai, Pereira seguia contrariando interesses de grupos que ameaçam a integridade da população local. Na Univaja, colaborava com a implementação de projetos que ajudavam as comunidades tradicionais a proteger seus territórios e os recursos naturais.
“A vítima atuava em defesa da preservação ambiental e na garantia dos direitos indígenas”, destacou a PF em nota divulgada nesta segunda-feira, 4, na qual reforça o monitoramento dos riscos aos habitantes da região do Vale do Javari e a continuidade das investigações sobre ameaças contra indígenas que vivem na mesma área onde Pereira e Phillips foram assassinados.