Muitos fãs se decepcionaram com a proposta de Celine Song ao abordar a questão da materialidade dos personagens em seu novo filme, Amores Materialistas, que estreou no dia 31 de julho nos cinemas do Brasil. Apesar de ter promovido o filme como uma comédia romântica que envolveria um triângulo amoroso entre os personagens de Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal, a verdade é que o longa não chegou nem perto disso e gerou debate quanto à escalação do elenco de forma pretensiosa.
Cuidado! A partir de agora o texto estará transbordando de spoilers, assim como o copo de Lucy, com bastante Coca-Cola e cerveja!
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A premissa inicial do filme pode ter cativado muitos telespectadores, isto é, a proposta de Celine ao abordar a casamenteira vivida por Lucy (Dakota Johnson) foge do tradicional. Nada de uma organizadora de eventos ou responsável por relações públicas em uma agência: a função da protagonista surpreende com uma pegada Black Mirror, ao juntar casais compatíveis de acordo com suas fichas técnicas e preferências. Até esse ponto, a crítica parece ter bastante potencial e profundidade.
Até que o primeiro envolvimento romântico acontece. Ao conhecer Harry (Pedro Pascal) em uma festa, na qual seu ex, John (Chris Evans), trabalha como garçom, Lucy se vê fascinada pela oportunidade de realizar seu desejo mais profundo: casar-se com um homem rico, embora Harry seja muito mais do que isso. Inteligente, atencioso, alto e bonito, Harry é considerado um “unicórnio”, ou seja, um homem que reúne qualidades suficientes para encantar grande parte das mulheres, incluindo Lucy, que decide dar uma chance ao relacionamento.
Menos de 45 minutos depois, o filme deixa de lado o romance entre os dois para revelar sua verdadeira virada de roteiro: Harry se submeteu a uma cirurgia para ganhar alguns centímetros de altura no passado e a intervenção, que deveria elevar sua autoestima, acaba se tornando um dos gatilhos para a insegurança do galã, convencido de que está sendo deixado por esse motivo.
A narrativa, no entanto, vai além. Entre dilemas e memórias, Lucy descobre que ainda guarda sentimentos pelo ex, mesmo que ele seja menos bem-sucedido, imaturo e notoriamente mão de vaca. Ao fim, prefere viver o sentimento de paixão ao invés da segurança financeira, emocional e aparentemente mais estável ao lado de Harry.
Diante de centenas de clientes que buscam essa realidade para si e de incontáveis falhas nos critérios de compatibilidade, Celine decide que a paixão deve ser o que motiva Lucy.
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"Eu queria falar sobre como o capitalismo corrompeu completamente não só a forma como amamos, mas também como nos vemos como pessoas", disse Celine Song em entrevista ao jornal catalão Ara. A diretora havia sido indicada ao prêmio do Oscar devido ao longa Vidas Passadas e surpreendeu a audiência ao se voltar para um dilema diferente do que foi apresentado inicialmente. "Acho que estou muito preocupada com a forma como somos solicitados a nos tornar objetos de valor, como se fôssemos mercadorias", completou.
Telespectadores relataram frustração ao não encontrar uma construção mais sólida na relação entre John e Lucy, apontando a falta de química do casal em cena. A breve participação de Pedro Pascal também foi alvo de críticas, vista por muitos como uma estratégia de marketing que se apoia na popularidade do ator após sucessos como The Last of Us e Narcos. A opinião quase unânime destaca a quebra de expectativas em relação ao título do longa: embora criativo, o enredo não sustenta a provocação. A questão que fica é se Lucy seria realmente materialista apenas por recusar a ideia de viver em um apartamento compartilhado com John, podendo viver ao lado de Harry em uma residência de 20 milhões de dólares. E você? Qual namorado escolheria em uma situação dessas?