Um estudo realizado pela Universidade de Lubeck, na Alemanha, revelou que a aplicação de inteligência artificial (IA) no rastreamento de câncer de mama pode aumentar a taxa de detecção sem elevar a incidência de falsos positivos. A pesquisa, inédita por usar a IA em tempo real, envolveu mais de 460 mil mulheres, entre 50 e 69 anos, e pode ser um marco para a melhoria dos exames de mamografia.
Ao contrário de outros estudos anteriores, onde a IA era aplicada apenas após a análise dos radiologistas, o estudo alemão usou a ferramenta em tempo real, permitindo que ela auxiliasse os médicos durante o processo de diagnóstico. Essa abordagem foi um dos principais diferenciais da pesquisa, tornando os resultados mais eficazes e imediatos.
O estudo, publicado na revista Nature Medicine, analisou os exames de mamografia de mulheres participantes de um programa nacional de rastreio. Durante o período de julho de 2021 a fevereiro de 2023, 2.881 mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama. Em um grupo de 260.739 mulheres, a IA foi aplicada para auxiliar os radiologistas, resultando na detecção de um caso adicional de câncer para cada mil mulheres examinadas.
De acordo com Alexander Katalinic, coautor da pesquisa, a introdução da IA nos exames pode melhorar a taxa de detecção sem aumentar os danos para as mulheres que participam do rastreamento. Além disso, ele acredita que a tecnologia pode aliviar a carga de trabalho dos radiologistas, tornando o processo mais eficiente.
A IA utilizada no estudo não só classifica os exames como "normais" ou suspeitos, mas também emite alertas para exames que, embora considerados normais pelos radiologistas, podem conter áreas que merecem uma análise mais detalhada. Esse sistema de alerta, denominado "rede de segurança", foi acionado 3.959 vezes durante o estudo, resultando em 204 diagnósticos de câncer de mama.
No entanto, a pesquisa também apontou que a IA falhou em identificar 20 casos de câncer, levantando preocupações sobre a precisão da tecnologia. Apesar disso, os resultados foram considerados encorajadores por especialistas, como Stephen Duffy, professor emérito de rastreio do câncer na Universidade Queen Mary, em Londres, que destacou o impacto positivo da IA no diagnóstico precoce.
Porém, especialistas como Kristina Läng, da Universidade de Lund, na Suécia, alertam que um acompanhamento de longo prazo é necessário para entender completamente as implicações clínicas da IA no rastreamento do câncer. A detecção precoce é crucial para aumentar as chances de sucesso no tratamento, e é fundamental que os métodos de IA evoluam para detectar casos clinicamente relevantes, principalmente em estágios iniciais.
A pesquisa da Universidade de Lubeck abre um novo caminho para o uso de inteligência artificial no diagnóstico de câncer de mama, oferecendo uma alternativa promissora para melhorar a precisão e a eficácia dos exames de rastreio, ao mesmo tempo que reduz a sobrecarga dos profissionais de saúde.
Com informações da Agência Brasil.