Opinião

O príncipe que não quis ser rei: a queda de Neymar como jogador

De promessa do Santos a estrela controversa, Neymar viveu glórias, polêmicas e a maior derrota contra o Vasco, sem alcançar a coroa esperada

 

No dia 17 de agosto de 2025, no Morumbis, o Santos viveu uma das páginas mais tristes de sua história: foi goleado por 6 a 0 pelo Vasco da Gama. Em campo, Neymar chorava inconsolável, e a cena correu o Brasil e simbolizou mais do que um tropeço de um clube tradicional: foi um retrato do declínio de uma das maiores promessas do futebol mundial, que um dia já foi chamado de sucessor de Pelé.

Quando surgiu na Vila Belmiro, Neymar era visto como um fenômeno. As manchetes diziam que “o raio caiu duas vezes no mesmo lugar”, numa referência ao fato de que, assim como Pelé, o craque havia sido descoberto pelo Santos. Neymar transformou-se rapidamente em ídolo, conquistou títulos importantes e tornou-se um dos jogadores mais famosos e admirados do mundo. Mas, ao contrário do Rei, ele não conseguiu escrever sua glória maior com a seleção: não conquistou uma Copa do Mundo e não tem Bola de Ouro.

Aos 21 anos, Neymar foi vendido ao Barcelona. Lá, por um tempo, pareceu cumprir a promessa que carregava desde garoto. Formou um trio histórico com Messi e Suárez, conquistou a Champions League e encantou a Europa. Mas a sombra de Messi pesava. Embora brilhante, Neymar não aceitava ser coadjuvante. Queria o trono. E foi essa busca por protagonismo que talvez tenha sido o ponto de inflexão de sua carreira.

Em 2017, deixou o Barcelona para se tornar o rosto de um projeto bilionário no Paris Saint-Germain. Na teoria, seria o passo para assumir o posto de melhor do mundo. Na prática, iniciou-se o período mais conturbado de sua trajetória. Mesmo com vários acertos, vieram mais lesões em sequência, os desgastes com torcedores, as polêmicas fora de campo e as ausências nos momentos decisivos da Champions League. De astro incontestável, Neymar virou alvo de questionamentos.

E como se esse peso não bastasse, a transferência para o Al Hilal, da Arábia Saudita, aumentou ainda mais as críticas. Muitos viram o movimento como a abdicação definitiva de sua ambição esportiva em troca de cifras milionárias. Para parte da imprensa e dos torcedores, Neymar deixava de ser visto como um jogador em busca de glória e passava a ser percebido como mais celebridade do que atleta, alguém que trocou os campos mais competitivos do futebol mundial pelos holofotes de contratos e aparições midiáticas. Esse episódio reforçou a sensação de que a coroa que um dia poderia ter sido sua já não era mais prioridade.

De volta ao Brasil em 2025, para o Santos, trazia no currículo a artilharia da seleção, títulos expressivos, mas também a sensação de uma carreira inacabada. A humilhação contra o Vasco foi o ponto mais baixo: a maior derrota de sua vida como jogador profissional. Entre lágrimas, Neymar parecia perceber que o conto de fadas havia se transformado em um grande drama.

O contraste é doloroso. Neymar sempre foi um gênio da bola, um artista capaz de lances que poucos no mundo imaginariam. Mas faltou-lhe aquilo que fez de Messi e Cristiano Ronaldo símbolos de uma era: consistência, disciplina e foco absoluto em sua profissão. Se Pelé é lembrado como o Rei do Futebol, Neymar ficará marcado como o príncipe que não quis ser rei, aquele que teve tudo para ser o maior de sua geração, mas que terminou sendo lembrado tanto pelas polêmicas e derrotas quanto pelos gols e dribles.

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