CRiSE MIGRATÓRIA

Trump reforça promessa de deportação em massa: 230 mil brasileiros podem ser afetados nos EUA

Política migratória da nova administração americana pretende acelerar deportações de imigrantes ilegais; economia e estabilidade social estão em jogo, dizem especialistas

O recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou medidas rigorosas contra a imigração ilegal, uma das principais bandeiras de sua campanha. Com a promessa de deportar milhões de imigrantes sem documentação, o plano deve impactar significativamente a população brasileira nos EUA, atualmente estimada em 230 mil pessoas em situação irregular, segundo o Pew Research Center.

Dados recentes apontam que cerca de 1,9 milhão de brasileiros vivem nos EUA, sendo este o principal destino de migrantes do Brasil. Desses, aproximadamente 230 mil estariam em situação ilegal, o que os coloca na linha de frente das novas políticas de deportação da administração Trump. Em comparação, Portugal, o segundo destino mais procurado, abriga 360 mil brasileiros, uma quantidade bem menor em situação de regularidade. Rodrigo Costa, CEO da consultoria de imigração Viva América, afirma que, embora as deportações em massa sejam uma ameaça, brasileiros com status migratório válido, como estudantes e trabalhadores documentados, estarão relativamente seguros.

"A preocupação real recai sobre aqueles que não conseguem provar o status de visto, como é o caso dos imigrantes que permanecem nos EUA após o vencimento de vistos de turista ou que cruzaram a fronteira sem documentos", diz Costa.

A visão econômica e social
Entre as áreas mais dependentes do trabalho imigrante nos EUA estão a agricultura, turismo e o setor de serviços, que utilizam amplamente a mão de obra de imigrantes indocumentados. Especialistas indicam que a retirada abrupta de milhões de trabalhadores dessas áreas poderia causar uma ruptura econômica significativa. “Se realmente houver uma deportação em massa, as economias locais poderão sofrer graves impactos”, explica o professor de relações internacionais Roberto Uebel, da ESPM. Segundo ele, o efeito cascata atingiria indústrias, pequenos negócios e, inevitavelmente, as famílias dos próprios trabalhadores.

Estima-se que o plano de deportação custaria bilhões aos cofres públicos. Um relatório do Conselho Americano de Imigração calculou que a remoção de um milhão de imigrantes custaria aproximadamente US$ 88 bilhões. Para alcançar a meta de 11 milhões de deportações, o custo total poderia superar US$ 950 bilhões, uma despesa que, de acordo com analistas, colocaria o governo americano sob pressão fiscal e logística.

Medidas prometidas e desafios
A nova administração também sugeriu a construção de novos centros de detenção, intensificação da segurança na fronteira com o México e expansão do muro iniciado no primeiro mandato de Trump. Além disso, o uso de militares para patrulhar a fronteira e a possibilidade de realizar deportações sem audiências judiciais são algumas das medidas planejadas para acelerar as expulsões de imigrantes.

A perspectiva dos brasileiros nos EUA
Para muitos brasileiros, o futuro é incerto. “O ideal para quem deseja permanecer no país é manter um status migratório regular e procurar vias de legalização”, recomenda Rodrigo Costa. Nos últimos anos, o Brasil se consolidou entre os dez países que mais recebem green cards, com mais de 28 mil documentos emitidos em 2023, número que evidencia o interesse e a aceitação de brasileiros nos Estados Unidos.

Embora Trump tenha sugerido a possibilidade de oferecer green cards a estudantes universitários estrangeiros, Costa considera a promessa improvável. “Essas medidas podem não sair do papel e são, muitas vezes, declarações para agradar certos setores do eleitorado”, conclui.

Com uma política migratória que promete ser a mais dura das últimas décadas, os imigrantes ilegais nos EUA, incluindo milhares de brasileiros, vivem a expectativa de mudanças drásticas. Enquanto isso, as incertezas e desafios para a economia americana, que depende significativamente da mão de obra imigrante, sugerem que as próximas ações de Trump serão observadas com cautela tanto por especialistas quanto por afetados pela política de imigração.

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